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Crônicas Oficiais: Diligência que acabou em “toddynho”

No começo da minha atuação em Friburgo, lá estava eu em uma região favelizada, de risco intermediário, digamos, se comparada ao Rio de Janeiro. Já havia estado no endereço outras vezes, sem encontrar ninguém, até que o dono do bar em frente me ajudou, telefonando para o destinatário. Era um mandado de penhora de uma empresa, embora não restasse dúvida de que se tratasse de uma residência. Peguei o telefone, me apresentei e expliquei que estava com um mandado para entregar a ele. Evito sempre especificar, para não possibilitar que a pessoa dê um sumiço nos bens…

Então perguntei se poderíamos marcar um horário. “Olha, eu só estou em casa aos domingos, 19h”, foi a resposta dele. Se fosse hoje, talvez eu não topasse ir naquele lugar àquele horário, mas como eu era novo e inexperiente, topei. Chegando lá, o sujeito estava meio bêbado, mas de um jeito que ainda permitia conversar. Expliquei que era um mandado de penhora e perguntei se havia algum item da empresa no endereço. “Ah, tem um monte de calcinha lá em cima”. Como Friburgo é conhecida por ser um polo da indústria de roupa íntima, vi que era caso de penhora mesmo. Subi e cataloguei um sem número de calcinhas e sutiãs. A diligência acabou duas horas depois. Ao me ver de volta, já bem alterado, ele mandou o tradicional “eu gosto de você, você é meu amigo”… Só que esse humor se transformou assim que eu pedi a assinatura no auto. “Eu vou te f…, eu vou te f…!”… Mas não demorou muito, acabou assinando, talvez até pelo constrangimento diante da mulher e dos filhos, pelo impacto que representa a visita de um Oficial de Justiça. No final, ainda me ofereceu um “toddynho”! Eu neguei, mas nunca esqueci da gentileza feita após uma ameaça daquela…

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