Encontro caloroso no camelódromo da Freguesia
Estava chegando no camelódromo da Freguesia para notificar um empresário, que chegara a possuir várias lojas no bairro, mas que havia falido e estava recomeçando a vida no comércio de ambulantes. Mal estacionei o carro, o reclamante, ex-gerente de uma dessas lojas que já não existiam mais, logo se aproximou para me acompanhar. Ele estava ali por orientação do juiz, para me ajudar a localizar o reclamado, ou seja, o empresário, que ao nos ver juntos, entendeu a situação e saiu andando. Ele cortou por dentro do camelódromo e eu fui atrás (quer dizer, nós…).
Quando o empresário percebeu que eu não ia desistir fácil, apertou o passo. A essa altura, estávamos quase correndo: eu, o ex-gerente (autor da ação na Justiça do Trabalho) e o ex-patrão. Até que finalmente ele parou. Meu primeiro gesto foi apertar sua mão, antes de explicar o meu trabalho. “Bom dia! Tudo bem com o senhor?…” Bastante tenso diante da presença do ex-funcionário, perguntou se podia ligar pro seu advogado. “Tudo bem”, eu disse. Um minuto depois, ao desligar o telefone, virou pra mim e disse que não iria assinar a notificação.
Expliquei então que nós, Oficiais de Justiça, temos fé pública e que ele já estava oficialmente citado. Nesse instante, o rapaz que estava ao meu lado começou a bater boca com o ex-chefe. Eu já havia explicado que se o reclamado não fosse à audiência, a situação dele com a Justiça iria piorar, e repeti para que não se aproximasse, mas já era tarde. O empresário reagiu e deu-lhe um tapa na cara. Transtornado, o reclamante insistiu depois para que eu fosse com ele registrar a agressão na delegacia. “Eu não vou para a delegacia, não! Eu avisei para não se aproximar dele. O máximo que posso fazer é lhe pagar um café no bar para o senhor se acalmar”, disse.
Ele topou e assim encerrei mais um dia de trabalho.
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